Mundo

Antigos combatentes da Renamo decidem encerrar sedes em todo o país

Ex-guerrilheiros da Renamo comunicam encerramento definitivo das delegações devido à falta de convocação de um Conselho Nacional ampliado pela liderança do partido.

há 5 horas
Antigos combatentes da Renamo decidem encerrar sedes em todo o país

Os ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) informaram hoje que irão fechar "definitivamente" as suas delegações em todo o território nacional, devido à ausência de convocação de um Conselho Nacional alargado, após um longo período de silêncio por parte da direcção do partido.

João Machava, porta-voz do grupo de antigos combatentes, afirmou em conferência de imprensa em Maputo: "A partir de hoje, voltamos a encerrar as delegações do partido Renamo a todos os níveis, até que as nossas exigências, que são estatutárias, sejam atendidas". Machava sublinhou a necessidade de o partido convocar rapidamente o Conselho Nacional, que deve incluir combatentes e outros quadros.

O encerramento das sedes será decidido por cada província. Os ex-guerrilheiros já haviam reiniciado atividades em 23 de junho, após um fecho anterior em protesto contra a liderança do presidente Ossufo Momade, que não atendeu o pedido de realização do Conselho Nacional dentro do prazo estipulado de 20 dias.

A Renamo também havia anunciado, anteriormente, a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 para os dias 07 e 08 de março, mas este foi adiado sem nova data. Embora a direcção do partido reconheça a obrigatoriedade de realizar dois conselhos nacionais por ano, alegam que não é necessário que estes ocorram em semestres distintos.

João Machava indicou que a retoma da ação de protesto se deve à falta de comunicação da direcção do Renamo, assegurando que "não houve nenhum pronunciamento nem aproximação" e que, dentro de uma semana, será feito um novo anúncio que poderá envolver outros passos.

Em protesto, as sedes nacionais e o gabinete de Momade foram ocupados por antigos guerrilheiros entre 15 e 28 de maio e, quando foram despejados de forma violenta pela Unidade de Intervenção Rápida, mais de 50 ex-combatentes foram detidos pela polícia.

Em declarações, o grupo pediu ao Governo e à polícia para que "não interfiram nos assuntos internos do partido", alertando que tal intromissão pode resultar em "atitudes menos desejadas". "Queremos instar mais uma vez ao Governo para que não se intrometa, pois isso poderá levar-nos a reações indesejadas. O Governo deve entender que também somos seres humanos e, por isso, sentimos dor, e esta dor poderá resultar em reações que ninguém deseja", afirmou Machava.

Ossufo Momade, que assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama, foi reeleito em maio de 2024 num processo criticado internamente. A crise atual da Renamo é marcada por exigências de demissão de Momade, citando a "má gestão", a falta de pagamentos de pensões e subsídios, e a ausência de um fundo de funcionamento adequado.

A Renamo, que outrora ocupou o estatuto da segunda força política em Moçambique, viu a sua representação parlamentar diminuir de 60 para 28 deputados nas eleições gerais de 9 de outubro. Momade, candidato presidencial nessa data, obteve apenas 6% dos votos, a pior performance de um candidato apoiado pelo partido desde as primeiras eleições em 1994.

Moçambique viveu uma longa guerra civil entre o exército governamental e a Renamo, a qual foi encerrada com o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992 entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, permitindo a realização das primeiras eleições em 1994.

#RenamoCrise #ExGuerrilheiros #PolíticaMoçambicana