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Hélder Bataglia como o Artífice das Relações Angola-China, Segundo Manuel Vicente

Manuel Vicente, ex-vice-Presidente de Angola, identificou Hélder Bataglia como o responsável pela aproximação entre Angola e China, durante o julgamento de generais acusados de defraudar o Estado.

08/07/2025 21:05
Hélder Bataglia como o Artífice das Relações Angola-China, Segundo Manuel Vicente

Durante o julgamento que decorre no Tribunal Supremo de Angola, Manuel Vicente, antigo vice-Presidente do país, fez revelações sobre o papel do empresário luso-angolano Hélder Bataglia na abertura de portas para a China. Vicente, cujas declarações datam de 2020 e foram agora apresentadas em tribunal, frisou que foi Bataglia quem, a pedido de José Eduardo dos Santos, facilitou o contacto com o empresário chinês Sam Pam.

No banco dos réus, encontram-se também os generais Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como 'Kopelipa', e Leopoldino Fragoso do Nascimento, o 'Dino', ambos acusados de gerir esquemas fraudulento que teriam causado prejuízos significativos ao Estado angolano. O tribunal também analisa as atividades de vários empresários e empresas, tais como Yiu Haiming e a China International Fund (CIF).

Na época em que os eventos ocorreram, Vicente era o presidente da Sonangol E.P. e coordenador das relações entre Angola e China. Conformou que, sob a direção de José Eduardo dos Santos, realizou diversas viagens à China para garantir financiamentos para Angola, com o primeiro contrato assinado no final de 2003, num valor de dois mil milhões de dólares.

Vicente apontou que foi Hélder Bataglia quem alertou José Eduardo dos Santos sobre as intenções de um investidor chinês. Vale lembrar que Bataglia é uma figura ligada ao Grupo Espírito Santo e mencionada em diversas investigações sobre a decadência deste grupo e as teias de poder em Angola, embora sempre tenha negado qualquer irregularidade.

Vicente destacou ainda o seu envolvimento na fundação da China Sonangol, uma parceria entre a estatal angolana Sonangol e empresários chineses, onde detinha um papel de liderança como presidente não executivo na empresa, que se limitava a um escritório de representação em Angola.

O ex-vice-Presidente sublinhou que a China Sonangol e a Sonangol E.P. eram entidades distintas em suas operações diárias, mas a petrolífera estatal fornecia petróleo à China Sonangol para garantir as relações comerciais entre Angola e a China.

Além disso, Vicente negou que a Sonangol E.P. tivesse feito financiamentos diretos à China Sonangol, qualificando esses valores como "suprimentos" relativos à participação acionista, enfatizando que a empresa chinesa fez pagamentos regulares por petróleo recebido.

Na sua declaração, Vicente disse que nem 'Kopelipa' nem 'Dino' eram sócios do CIF Angola, justificando ainda que o general Dino tinha apenas uma função de apoio na reestruturação da empresa sob a orientação de José Eduardo dos Santos. A acusação recai sobre os arguidos por diversos crimes, incluindo peculato e tráfico de influência, relacionados a um alegado esquema de financiamento entre os dois países.

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