Cerimónias fúnebres de ex-ministro russo não contaram com a presença de Putin
O ex-ministro dos Transportes, Roman Starovoit, faleceu sob circunstâncias trágicas, semanas após a sua demissão por corrupção, gerando indignação na elite política russa.

Na passada sexta-feira, 11 de julho, realizou-se o funeral de Roman Starovoit, ex-ministro dos Transportes da Rússia, num cemitério de São Petersburgo. A cerimónia, que contou com a presença de familiares e antigos colegas, não teve a participação do presidente Vladimir Putin, que também não esteve presente no velório, ocorrido na quinta-feira.
Durante o velório, onde a agência de notícias francesa AFP teve acesso, a esposa de um antigo colega de Starovoit foi a única a expressar pesar pela sua morte, considerando-a "uma grande perda e muito inesperada". Após a cerimónia, os antigos companheiros de Starovoit, vestidos com fatos escuros, deixaram rapidamente o local em carros luxuosos, evocado um ambiente semelhante a um funeral do icónico filme 'O Padrinho'.
O alegado suicídio do ex-ministro, de 53 anos, ocorreu em um contexto de grande tensão política, após a sua demissão, a qual se deu por suspeitas de corrupção, anúncio que causou uma onda de choque na elite governamental russa. A demissão sucedeu a uma série de perturbações nos aeroportos, provocadas por drones ucranianos, que resultaram no cancelamento de mais de 2.000 voos.
O corpo de Starovoit foi encontrado dentro do seu automóvel, apresentando um ferimento à bala. Antes de se tornar ministro em Moscovo, em maio de 2024, ele havia sido governador da região de Kursk, situada na fronteira com a Ucrânia. A sua ascensão ao poder coincidiu com momentos difíceis para o Kremlin, especialmente após a ofensiva militar ucraniana.
O novo governador da região, Alexei Smirnov, foi detido anteriormente por desvio de fundos destinados a fortalecer as defesas fronteiriças. O caso de Starovoit é um reflexo da recente onda de repressão contra figuras proeminentes acusadas de enriquecimento ilícito durante a campanha militar na Ucrânia.
Ainda que Putin frequentemente declare empenho no combate à corrupção — enfrentando, por sua vez, acusações de enriquecimento —, as poucas detenções entre altas figuras do governo têm sido vistas como manobras para eliminar opositores no seio do regime. De acordo com a analista Tatiana Stanovaya, desde o início da ofensiva na Ucrânia, o sistema político russo está a manifestar uma “sensação de desespero” e a elite está cada vez mais a tornar-se um alvo para ações severas das autoridades.
Com o temor de represálias por ações que possam colocar o estado em risco, as autoridades têm mantido uma postura rigorosa, resultando na detenção de vários generais e oficiais de defesa por corrupção nos últimos anos.