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Ex-primeiro-ministro israelita critica proposta de "cidade humanitária" em Gaza

Ehud Olmert condena planos do governo israelita para uma "cidade humanitária" no sul de Gaza, apontando para uma possível "limpeza étnica" e efeitos devastadores sobre a população palestiniana.

há 5 horas
Ex-primeiro-ministro israelita critica proposta de "cidade humanitária" em Gaza

Ehud Olmert, que ocupou o cargo de primeiro-ministro de Israel entre 2006 e 2009, criticou veementemente o actual ministro da defesa israelita, Israel Katz, acusando-o de conceber um campo de concentração em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

"Desculpem, mas é um campo de concentração", afirmou Olmert, referindo-se à proposta de Katz para o estabelecimento de uma "cidade humanitária" nas ruínas da cidade, anunciada na semana passada. O ex-primeiro-ministro considera que a ideia não é crível, especialmente depois de uma retórica violenta por parte de vários ministros israelitas que clamam por uma "limpeza" da região.

Em declarações ao The Guardian, Olmert expressou a sua preocupação de que, se o povo palestiniano fosse forçado a habitar este campo, estes seriam permanentemente impedidos de sair, exceto para outros países. "Se os palestinianos forem deportados para esta nova 'cidade humanitária', isso pode ser interpretado como parte de uma limpeza étnica", elucidou.

O ex-chefe de governo já havia criticado o actual ofensiva israelo-palestiniana, afirmando que Israel está a cometer crimes de guerra tanto no enclave como na Cisjordânia. Para ele, a construção de um campo que se propõe 'limpar' mais de metade de Gaza é uma escalada perigosa no conflito.

"Quando se erige um campo destinado a 'limpar' uma significativa parte de Gaza, a leitura implícita da estratégia é clara: não é para salvar os palestinianos, mas sim para os deportar e os marginalizar", disse Olmert ao The Guardian.

O ex-primeiro-ministro, que anteriormente negava que Israel estivesse a levar a cabo uma limpeza étnica, viu-se agora forçado a revisar a sua posição, em face dos recentes desenvolvimentos. A semana passada, o ministro da defesa deu início a planos para erguer uma 'cidade humanitária' em Gaza, prevendo abrigar inicialmente 600 mil pessoas, com a intenção de eventualmente acomodar toda a população palestiniana. O governo de Israel alega que o objetivo é proteger os civis palestinianos.

Os meios de comunicação israelitas indicam que a resistência de Telavive em recuar das zonas afetadas está a ser um ponto de discórdia nas negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

A entrevista de Olmert coincidiu com o funeral de dois palestinianos na Cisjordânia ocupada, um dos quais era cidadão norte-americano, ambos mortos por colonos israelitas. Estas mortes são as mais recentes numa onda de violência que aflige a região há dois anos, levando mais palestinianos a deixar os seus lares.

Enquanto Telavive atribui os ataques ao extremismo, Olmert defende que esses grupos não teriam apoio para operar de forma sistemática se não houvesse uma supervisão das autoridades israelitas nos territórios ocupados. Ele adverte que a crescente indignação mundial, em resposta à crise humanitária na Faixa de Gaza, é alarmante.

"Nos Estados Unidos, nota-se um aumento da hostilidade em relação a Israel", declarou Olmert. "Costumamos desvalorizar isso, dizendo que são antissemitas. Mas, na verdade, muitos são anti-Israel pelo que veem na televisão e nas redes sociais."

Inicialmente a favor da campanha contra o Hamas após os ataques de 7 de outubro de 2023, Olmert confessa sentir-se agora "envergonhado e destroçado" pela actual ofensiva israelita.

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