"Gonçalo Perdigão defende a regulação da IA para um futuro responsável"
O diretor-geral da Algorithm G, em entrevista à Lusa, destaca a importância da regulação da IA e o seu papel na optimização das tarefas, enquanto reflete sobre a relação entre tecnologia e responsabilidade ética.

Gonçalo Perdigão, diretor-geral da Algorithm G, expressou em entrevista à Lusa o seu forte apoio à regulação da inteligência artificial, considerando-a crucial para o futuro da tecnologia. "Creio que é essencial encontrar um equilíbrio delicado entre a legislação e a inovação. Precisamos de regras que orientem e não restrinjam a criatividade", explicou o coautor do livro 'Building Creative Machines', em colaboração com Filipa Matos Baptista e João Santos Pereira.
Perdigão sublinhou que a atual regulação "é bastante equilibrada", criando limites claros e permitindo que cada país se adapte às suas próprias necessidades. Reconheceu, no entanto, que as variações entre as regiões levantam dúvidas sobre a direção que a regulação deve tomar. "Na Europa, estamos a ser pioneiros, enquanto outras regiões ainda não tomaram iniciativas semelhantes. É necessário ponderar até onde podemos avançar", questionou.
O responsável chamou a atenção para o impacto da tecnologia no comportamento humano, especialmente no que diz respeito à preguiça. "Já assistimos a efeitos semelhantes com outras inovações. Por exemplo, a Wikipedia e o Google tornaram-nos mais dependentes, facilitando o acesso à informação, mas limitando a nossa curiosidade", observou Perdigão.
Embora reconheça que a IA pode tornar algumas pessoas mais complacentes, Gonçalo Perdigão prefere ver a tecnologia como uma oportunidade para otimizar tarefas rotineiras e burocráticas, permitindo que as pessoas se dediquem a trabalhos que agreguem mais valor. "Em vez de olharmos apenas para a preguiça, pensemos na possibilidade de transferir o trabalho de menor valor para as máquinas, maximizando o que realmente importa no nosso dia a dia", enfatizou.
A ética e a responsabilização também foram temas abordados por Perdigão, que destacou a importância de criar modelos de IA com informações rigorosamente curadas. "Os dados que alimentam esses modelos devem ser limpos e isentos de preconceitos. A qualidade da informação que utilizamos tem um impacto direto nas suas respostas", afirmou.
Perdigão levantou preocupações sobre os riscos associados a fenómenos como os 'deepfakes' e as notícias falsas, que continuam a ser analisados sob diversas perspectivas. "Estamos a desenvolver camadas de software que ajudam a mitigar esses problemas. É um processo contínuo que requer adaptação e inovação", disse.
O especialista sublinhou ainda que a capacidade da Europa de estabelecer regras sólidas para a utilização responsável da IA é uma vantagem em relação a outras regiões. "Estamos já a implementar estas normas que foram definidas em agosto de 2024 e que devem estar operacionais em cada país da União Europeia até 2026. Em Portugal há um consórcio a trabalhar nessa implementação", concluiu.
Por último, Gonçalo Perdigão abordou a questão dos modelos de IA que reproduzem os preconceitos humanos. "É um desafio difícil, mas estamos a realizar testes rigorosos para minimizar esses vieses, buscando que o modelo não reflita as limitações da natureza humana. Queremos que a IA represente o que a humanidade não consegue ser", finalizou.