Israel planeia "cidade humanitária" para reorganizar população de Gaza
O ministro da Defesa de Israel apresentou um plano para criar uma "cidade humanitária" que albergará palestinianos na Faixa de Gaza, enquanto o Exército se aproxima de uma decisão militar.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, anunciou, numa conferência de imprensa, a intenção de estabelecer uma "cidade humanitária" destinada a concentrar a população palestiniana na Faixa de Gaza, especificamente em Rafah, no sul do enclave, que tem estado em conflito durante 21 meses.
Na fase inicial, esta nova infraestrutura poderá acomodar até 600 mil habitantes da zona de Al-Mawasi e de outras áreas do território. O acesso à cidade será reservado apenas para aqueles que forem registados e rastreados, para evitar a presença de membros do Hamas, com a imposição de que uma vez dentro, os residentes não poderão sair.
A concepção deste espaço visa a transferência da população civil palestiniana para instalações geridas por organizações internacionais, que seriam vigiadas por tropas israelitas a uma certa distância. Serão ainda criados quatro novos locais destinados à distribuição de ajuda humanitária.
Katz frisa que uma das metas desse projeto é incentivar a "emigração voluntária" da população palestiniana, sublinhando a necessidade de implementação do plano.
Se for alcançado um entendimento com o Hamas para a libertação de reféns e uma trégua de 60 dias, o ministro mencionou que a construção da "cidade humanitária" poderá iniciar-se dentro desse período. Esse plano alinha-se a documentos sobre a criação de "Zonas de Trânsito Humanitário" para abrigar a população com o intuito de facilitar a sua saída após um processo de "desradicalização".
Embora Katz tenha negado que Israel controle a gestão dessas zonas, diversas organizações internacionais já se manifestaram contra um sistema que permaneça sob a supervisão de Tel Aviv.
Atualmente, apenas a Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos EUA e Israel, opera em conjunto com o Exército de Israel, tendo já declarado não estar disposta a colaborar com qualquer iniciativa relacionada com as "Zonas de Trânsito Humanitário".
Katz revelou ainda que Israel detém controlo sobre 70% da Faixa de Gaza, enquanto o comandante das forças israelitas, Eyal Zamir, afirmou estar "muito perto de um ponto de decisão" no conflito com o Hamas.
Durante uma visita à cidade de Khan Yunis, Zamir manifestou-se satisfeito com as conquistas realizadas, referindo que os soldados israelitas estão a "criar novas oportunidades" em contextos políticos, referindo-se a negociações em andamento no Qatar para um cessar-fogo e ao encontro agendado em Washington entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Apesar disso, Zamir realçou que os objetivos do Exército se mantêm intactos, destacando a necessidade de garantir a devolução dos reféns, derrotar o Hamas e assegurar o regresso das comunidades israelitas deslocadas. "Não temos qualquer intenção de desistir de nenhum destes objetivos", afirmou, enfatizando que a força instalada na Faixa de Gaza é "suficiente para cumprir a missão".
A proposta de cessar-fogo em discussão contempla uma pausa de 60 dias nos combates, durante os quais o Hamas libertaria 10 reféns vivos e 18 cadáveres, em troca de um número indefinido de prisioneiros palestinianos em Israel. Durante esse período, a ajuda humanitária à população de Gaza seria reforçada e ambas as partes negociariam um acordo final para o término do conflito.
No entanto, persistem divergências sobre o fim definitivo da guerra e a retirada das forças israelitas, contrapõem-se aos objetivos da rendição e desmantelamento do Hamas.
Desde o início do conflito em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas que resultou em cerca de 1.200 mortos, a maioria civis, e mais de 200 reféns, Israel lançou uma grande operação militar que já causou mais de 57 mil vítimas, de acordo com autoridades do Hamas, além da destruição das infraestruturas do território e da deslocação de centenas de milhares de pessoas.