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"O Legado da Doação de Órgãos: Da Perda à Esperança"

No Dia Nacional da Doação de Órgãos, entrevistamos Élia Mateus, Coordenadora da Unidade de Transplante Hepático, sobre a importância da doação na vida de muitas pessoas.

há 5 horas
"O Legado da Doação de Órgãos: Da Perda à Esperança"

No dia 20 de julho, celebramos o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação. Segundo o Instituto Português do Sangue e da Transplantação, até 2024, Portugal contabilizou 932 órgãos transplantados e 602 transplantes de progenitores hematopoiéticos (células estaminais que podem originar diferentes tipos de células sanguíneas).

Realizar um transplante é sinónimo de esperança e de um novo começo, no entanto, o acompanhamento dos pacientes permanece crucial. Um dos principais obstáculos que enfrentam está relacionado com a imunossupressão - que compromete as defesas naturais do organismo.

Os pacientes submetidos a um transplante de órgão sólido necessitam de tratamento imunossupressor durante toda a vida para prevenir a rejeição do órgão transplantado, resultando numa contínua maior vulnerabilidade a infecções, especialmente as virais. Um dos desafios mais relevantes é a infeção por citomegalovírus (CMV), cujo contacto representa um risco significativo para os transplantados.

Considerando a importância do Dia Nacional da Doação de Órgãos, entrevistámos Élia Mateus, Coordenadora da Unidade de Transplante Hepático no Hospital Curry Cabral, para aprofundar a temática.

Qual a importância da doação de órgãos e da transplantação?

A doação de órgãos é um ato que salva vidas. A transplantação é, frequentemente, a única saída para pacientes que padecem de falências de órgãos vitais, como é o caso do fígado, que é a minha especialidade.

Graças aos dadores, milhares de indivíduos no mundo inteiro conseguem viver mais tempo e com uma qualidade de vida superior.

Qualquer pessoa pode ser dadora de órgãos? Quais os critérios?

Sim, teoricamente qualquer pessoa pode ser dadora de órgãos. Em Portugal, todos somos considerados presuntivos dadores; para não querer ser dador, é necessário expressar essa vontade através do RENNDA (Registo Nacional de Não Dador).

A aceitação da doação depende do estado dos órgãos no momento da morte, e não se limita apenas à idade ou histórico médico. Em casos de morte cerebral ou paragem cardíaca controlada, uma equipa médica especializada verifica as condições para a dádiva.

A doação em vida também é uma opção (como fígado, rim ou medula óssea) e exige uma avaliação minuciosa para garantir a segurança tanto do dador quanto do recetor.

É necessária uma maior sensibilização da sociedade sobre a doação?

Certamente. Embora Portugal possua uma das taxas de doação mais altas da Europa, ainda existem doentes que falecem à espera de um órgão. A sensibilização é vital para desmistificar ideias erradas, esclarecer dúvidas e incentivar discussões familiares sobre a vontade de doar.

Quais os principais desafios após um transplante?

Os desafios principais incluem a rejeição e os efeitos secundários associados aos imunossupressores. Para evitar a rejeição – que pode ocorrer a curto e a longo prazo – os pacientes precisam de tratar com medicação ao longo da vida, o que os torna susceptíveis a infeções.

Assim, é essencial uma gestão cuidada da medicação pós-transplante e um acompanhamento médico contínuo.

O que são as infeções oportunistas e como afetam os transplantados?

As infeções oportunistas, provocadas por microorganismos como bactérias ou vírus, são uma preocupação significativa nos meses iniciais após a transplantação, quando os níveis de imunossupressão são mais altos. A monitorização e tratamento precoce destas infeções são cruciais, pois podem prejudicar o funcionamento do órgão transplantado e aumentar o risco de rejeição.

Qual é o impacto do CMV nos transplantados?

O CMV, um vírus comum da família do herpes, geralmente não causa problemas em indivíduos saudáveis, mas em pacientes transplantados pode provocar doenças mais graves, dependendo do tipo de órgão transplantado e do nível de imunossupressão. O diagnóstico é feito através de análises sanguíneas periódicas.

Quais cuidados são essenciais após um transplante?

Os cuidados imediatos após o transplante são muito rigorosos, e a adesão à medicação é crucial. Embora a vigilância médica seja mais intensiva nos primeiros meses, é importante continuar a aderir a uma rotina de consultas regulares e manter hábitos saudáveis.

As famílias também desempenham um papel crucial, precisando de se adaptar e oferecer apoio emocional durante o tratamento e recuperação do ente querido.

Como a doação de órgãos pode ajudar as famílias em luto?

Para muitas famílias, saber que a morte de um querido contribuiu para salvar outras vidas é uma fonte de conforto. A doação pode transformar a dor da perda em esperança e significado, perpetuando um legado de solidariedade.

Quais são as implicações da rejeição do órgão?

A rejeição pode surgir de uma resposta imunitária inadequada, falhas na medicação ou infeções. Adesão insuficiente ao tratamento ou a descontinuação dos imunossupressores pode aumentar o risco de complicações sérias, que podem ser potencialmente fatais se não forem tratadas a tempo.

Como melhorar a disponibilidade de órgãos para transplantação?

É vital continuar a promover a informação e sensibilização, expandindo os critérios para a colheita de órgãos e incentivando a dádiva em vida. O apoio aos dadores, incluindo assistência durante a ausência do trabalho e melhoria de acesso aos cuidados de saúde, também deve ser priorizado.

As decisões sobre doação devem ser discutidas em família, facilitando o processo e contribuindo para salvar mais vidas.

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