Planeta entra em sobrecarga, usando recursos a crédito humano
Amanhã, a Terra esgota os recursos gerados para este ano, revelando uma utilização excessiva da natureza. É urgente agir para evitar consequências devastadoras.

Na quinta-feira, o planeta atinge um marco preocupante: a sobrecarga, que representa o momento em que a demanda humana por recursos naturais supera a capacidade regenerativa da Terra. Neste dia crítico, os ecossistemas já não conseguem manter o ritmo de consumo, sendo que a humanidade está a recorrer aos recursos da natureza a uma taxa 1,8 vezes superior ao que o planeta pode repor anualmente.
A data, conhecida como "Earth Overshoot Day", é calculada pela Global Footprint Network, uma organização destacada na promoção da sustentabilidade. Este ano, este dia chega mais cedo do que nunca, levando a humanidade a operar "à crédito", utilizando o que a Terra pode fornecer até ao fim do ano.
A sobrecarga é consequência de várias práticas insustentáveis. Segundo as análises da Global Footprint Network, as emissões de dióxido de carbono (CO2) excedem a capacidade da biosfera para absorver, enquanto o uso de água doce, o abate de árvores e a pesca superam as taxas de regeneração natural.
Esta exploração excessiva leva inevitavelmente à erosão do capital natural do planeta, comprometendo a segurança dos recursos a longo prazo, especialmente para os que já enfrentam dificuldades em aceder a eles. Apesar da estabilidade nos últimos 15 anos em relação à data da sobrecarga, a pressão sobre os ecossistemas continua a crescer.
A associação ambientalista portuguesa Zero sublinha que, mesmo sem grandes variações, o acúmulo de danos no planeta exige uma aceleração nas mudanças necessárias para mitigar o impacto das atividades humanas.
A Zero apresenta algumas soluções: a implementação de um "Green New Deal" com uma ambição similar à da União Europeia poderia atrasar a sobrecarga em 42 dias nos próximos 10 anos. Uma taxa de 100 dólares por tonelada de carbono poderia atrasar em 63 dias, enquanto uma redução no consumo de carne pela metade permitiria utilizar os recursos por mais 17 dias.
Adicionalmente, a Global Footprint Network alerta que o excesso de CO2 traz não apenas a perda de biodiversidade, mas também provoca estagnação económica, inflação e crises emergentes. Cidades e países que não se prepararem para estas mudanças enfrentarão riscos elevados.
A “sobrecarrega” representa uma falha do modelo de consumo actual e um alerta a todos os que consomem excessivamente. Tal situação, se não for abordada, poderá levar a uma catástrofe, conforme alertou a Zero, destacando que esta prática ameaça o bem-estar das gerações futuras.
Propondo um enfoque na economia do bem-estar, a Zero defende que a prosperidade deve ser medida não apenas pelo crescimento do PIB, mas também pela saúde ecológica e justiça social. Para tal, é crucial implementar políticas que integrem os direitos das gerações futuras nas decisões actuais. Neste contexto, associações como a Zero, Oikos e Último Recurso estão a trabalhar na elaboração de uma proposta de lei nessa direcção.
Enquanto a Global Footprint Network anuncia anualmente a data do "Earth Overshoot Day" a 5 de Junho, a situação em Portugal revela que o país já tinha esgotado os seus recursos no passado dia 5 de Maio. Caso todos os habitantes do planeta agissem como os portugueses, seriam necessários quase três planetas para sustentar o consumo.