Rádios comunitárias da Guiné-Bissau: Uma ponte entre as comunidades
As rádios comunitárias na Guiné-Bissau garantem a ligação e informação das comunidades, mesmo nas zonas sem eletricidade, mostrando-se essenciais para a comunicação local.

Uma verdadeira rede de solidariedade, as rádios comunitárias na Guiné-Bissau têm um papel fundamental ao manter as comunidades informadas e interligadas, mesmo nas áreas mais isoladas. Com 34 emissores espalhados pelo país, incluindo seis nas ilhas Bijagós, estas rádios abordam diversos temas, desde campanhas de vacinação até questões educativas e lutos nas comunidades.
A Voz do Quelelé, a primeira rádio comunitária do país, foi criada há 31 anos através de uma colaboração entre a ONG AD - Ação para o Desenvolvimento e a associação de moradores do bairro de Quelelé, em Bissau. Inicialmente vista como um opositor ao regime do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), a rádio ganhou credibilidade durante a epidemia de cólera, promovendo informação vital sobre saúde pública, como o tratamento de águas e cuidados de higiene.
Graças às suas iniciativas, o bairro Quelelé teve apenas um óbito e seis casos durante a epidemia, em contraste com outras áreas. Reconhecida pelo Ministério da Saúde, a Voz do Quelelé tem sido um exemplo a seguir, inspirando rádios comunitárias em países de língua portuguesa como Cabo Verde e Angola.
A essência da rádio foca em temas da comunidade, abordando a situação das escolas, questões de saneamento, desporto local, cultura, mercados e negócios. As campanhas de sensibilização sobre segurança e gestão de resíduos são constantes, e a rádio transmite conteúdos tanto em crioulo e línguas locais quanto em português, que atualmente aguarda a volta de um professor para retomar um programa dedicado ao idioma.
Composta por um grupo de voluntários, a rádio funciona também como uma escola de formação. Muitos dos que aqui trabalharam tornaram-se profissionais de comunicação reconhecidos. Mamudu Danso, que nunca recebeu um pagamento pela sua contribuição, acredita que a experiência e o conhecimento adquiridos são mais valiosos. As rádios comunitárias da Guiné-Bissau enfrentam grandes desafios económicos, mas a dedicação à comunidade é o que realmente as motiva, como explicou Demba Sanhá, coordenador da Rede Nacional das Rádios Comunitárias (RENARC), que agora conta com 38 membros.
A rádio continua a ser o principal meio de comunicação para muitas comunidades, oferecendo uma forma acessível de compartilhar informações. Mesmo em áreas rurais, a obtenção de um rádio a pilhas tem permitido aos residentes ouvir notícias e programas relevantes. Os profissionais dessas rádios são considerados referências, onde o acesso à informação se tornou vital.
Outra função importante das rádios comunitárias é facilitar a comunicação entre comunidades, especialmente em áreas sem acesso à eletricidade ou serviços postais adequados. Antes, a comunicação era feita através de cartas ou mensageiros; agora, a rádio agiliza esse processo.
No entanto, as emissoras enfrentam desafios logísticos significativos; a maioria opera com geradores e a falta de combustível pode interromper as transmissões. A RENARC visa, além de formar os profissionais, criar parcerias para colmatar a falta de recursos, como a instalação de painéis solares, algo que já tem beneficiado algumas rádios.