Sarampo: O Perigo da Perda da Memória Imunitária
Especialistas alertam que o vírus do sarampo pode comprometer a memória do sistema imunitário, aumentando a vulnerabilidade às infecções. A vacinação é crucial para proteger a saúde das crianças.

O vírus do sarampo, especialmente em crianças, apresenta riscos severos que vão além dos sintomas imediatos. Este patógeno pode levar a complicações graves, como cegueira, pneumonia e até morte. Segundo Antony Black, professor de Ciências Biológicas na Universidade de Westminster, a vacinação tem sido uma defesa eficaz e segura, prevenindo mais de 60 milhões de óbitos entre 2000 e 2023.
No entanto, há uma tendência alarmante: o aumento dos casos de sarampo no Reino Unido e em várias partes do mundo. Este cenário é amplamente atribuído à hesitação em vacinar e a campanhas de imunização insuficientes, resultando em milhões de crianças desprotegidas.
Recentes investigações indicam que a vacinação contra o sarampo traz benefícios que vão além da proteção contra a doença. Crianças que recebem a vacina demonstram uma susceptibilidade significativamente menor a infecções não relacionadas ao sarampo. Esta proteção adicional pode ser explicada pelo fenômeno denominado "amnésia do sarampo", onde o vírus enfraquece a memória do sistema imunitário.
O nosso organismo conta com várias células que ajudam a lutar contra infecções, com algumas a produzir anticorpos e outras a atacar células infetadas. A vacinação garante que o corpo retém memória sobre infecções passadas, permitindo respostas rápidas no futuro. Contudo, o sarampo pode comprometer essa memória, fazendo com que crianças que já tinham imunidade a outras doenças se tornem vulneráveis.
Um estudo identificou que, após infecção por sarampo, 11% a 73% dos anticorpos contra outras doenças eram eliminados em crianças não vacinadas. Em contraste, esta depleção não foi observada em vacinados, indicando a eficácia da vacina na preservação da imunidade.
Isto pode explicar a relação observada entre surtos de sarampo e o aumento de outras doenças infecciosas. Investigadores estão atualmente a estudar o impacto da amnésia do sarampo em regiões como a África Ocidental, onde o vírus ainda é prevalente.
Outra teoria relevante é o chamado "efeito não específico" da vacina. A pesquisa sugere que a vacinação não só protege contra o sarampo, mas também pode fortalecer o sistema imunitário em geral, tornando-o mais resistente a diferentes patogénicos.
A vacina contra o sarampo utiliza uma versão atenuada do vírus e é conhecida por promover uma resposta imunitária robusta. À semelhança da vacina BCG para a tuberculose, as vacinas vivas exercem um “treino” no sistema imunitário, o que ajuda a clarificar os benefícios não específicos associados à vacinação.