Trump e o papel crucial na intensificação da hostilidade contra o jornalismo
A ONG Repórteres Sem Fronteiras identifica Donald Trump como um protagonista na crescente repressão à liberdade de imprensa global, ecoando práticas de regimes autoritários.

A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou, em uma afirmação publicada hoje, que Donald Trump se posicionou como uma figura central num movimento global que adversa o jornalismo. Segundo a RSF, o governo Trump tem adotado uma postura cada vez mais hostil em relação à Comunicação Social, imitando táticas de regimes autoritários em diversas partes do mundo.
A RSF sublinha que o movimento transnacional que se opõe à imprensa encontrou em Trump um dos seus defensores mais influentes, o que tem contribuído para o recente retrocesso da liberdade de expressão a nível mundial. Clayton Weimers, diretor executivo da RSF nos Estados Unidos, afirmou que, desde a sua chegada ao poder, Trump combinou anos de ataques retóricos aos jornalistas com ações concretas que visam restringir a liberdade de imprensa. Esta estratégia tem inspirado outros líderes a adotarem comportamentos similares contra os seus próprios meios de comunicação.
A organização listou várias iniciativas tomadas por Trump que afetam o setor, incluindo "guerra jurídica" e pressões económicas sobre órgãos de comunicação que veiculam notícias desfavoráveis. As táticas recordam ações do presidente salvadorenho Nayib Bukele, que, após declarar estado de emergência em 2022, processou diversos jornalistas e meios de comunicação.
A RSF também destacou que os aliados de Trump têm infiltrado a imprensa, citando o processo contra a Paramount, proprietária da CBS, que permitiu a David Ellison, próximo de Trump, assumir o controlo da empresa. O presidente húngaro, Viktor Orban, foi mencionado como exemplo de quem se aproveitou da compra de meios por oligarcas filiados ao governo para controlar a informação política, sendo este controle responsável por cerca de 80% da cobertura mediática.
Outra preocupação da RSF é o enfraquecimento de meios de comunicação públicos e independentes, com destaque para o encerramento da Voice of America (VOA) e para a intenção de Trump de acabar com o financiamento federal de emissoras públicas, como a National Public Radio (NPR) e a Public Broadcast Service (PBS), questões que estão atualmente em debate no Senado.
A ONG recordou que o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro adotou medidas semelhantes, tentando desmantelar a Empresa Brasil de Comunicação. Além disso, a RSF chamou atenção para a violência sistemática do governo Trump contra jornalistas, mencionando os protestos relacionados a imigração que ocorreram em Los Angeles em junho, onde pelo menos 60 incidentes violentos contra profissionais da comunicação foram registados.
Esses atos de agressão a jornalistas, que também estão presentes em países como a Sérvia, Turquia e Geórgia, refletem uma estratégia intrínseca da política trumpista. A RSF também criticou a "vigilância da linguagem", referindo-se à proibição imposta por Trump à Associated Press de aceder à Sala Oval, ao Air Force One e a outros encontros oficiais, devido ao uso do nome "Golfo do México", em contrariedade à imposição do termo "Golfo da América". Essa abordagem, conforme a RSF, ecoa as táticas de controle da informação utilizadas pelo Kremlin.
Por último, a organização condenou as alegações infundadas do governo Trump contra meios de comunicação e as campanhas de difamação contra jornalistas, uma prática que também tem sido utilizada pelo presidente argentino Javier Milei.