Divergência entre a retórica de Trump e os dados sobre imigração nos EUA
O discurso de Trump sobre crimes relacionados com imigrantes contrasta com os dados do ICE, que mostram que a maioria dos detidos não tem antecedentes criminais.

O académico norte-americano Ahilan Arulanantham, professor na UCLA, alerta para uma discrepância significativa entre a narrativa de Donald Trump acerca dos imigrantes e a realidade apresentada pelos números oficiais. Arulanantham sublinha que a administração Trump, tal como as anteriores, tem insistido na ideia de que estão a combater os "piores dos piores", caracterizando os imigrantes como indivíduos violentos com largos antecedentes criminais. Contudo, na prática, a grande maioria das pessoas que são alvo de detenções não possui qualquer historial criminal.
Desde o início do segundo mandato de Trump, as detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) aumentaram, com operações em todo o país. No entanto, os dados indicam que a maioria dos detidos não tem condenações. Em 29 de junho, 57.861 pessoas estavam sob custódia do ICE, das quais 71,7% (41.495) não tinham condenações penais.
Num total de 14.318 detidos com acusações pendentes, há também 27.177 sem historial criminal. O ICE avalia cada um dos detidos quanto ao seu nível de ameaça, e os que não têm registos criminais são classificados como "sem nível de ameaça ICE". Segundo os dados de 23 de junho, 84% dos detidos não apresentavam risco elevado.
A retórica de Trump, que insistentemente menciona "criminosos perigosos", parece desfasada da realidade, já que apenas 6,9% dos detidos com antecedentes criminais cometeram crimes violentos. O foco da administração parece estar mais na criação de um medo generalizado do que na verdade dos números.
Por sua vez, Tricia McLaughlin, do Departamento de Segurança Interna, refutou as alegações sobre a falta de enfoque em criminosos, afirmando que o ICE recebe orientações para "perseguir os piores dos piores", que incluem, segundo ela, membros de gangues e outros criminosos. Contudo, os dados recentes do Instituto Cato revelam que 65% das pessoas processadas pelo ICE em 2025 não tinham condenações criminais, o que reitera a divergência entre a afirmação oficial e a realidade pública.