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Escavações iniciam-se para trazer à luz a trágica história de 796 crianças em Tuam

Começaram as escavações na St Mary's Mother and Baby Home, onde quase 800 crianças foram enterradas. As atrocidades do passado começam a ser finalmente reconhecidas.

há 2 horas
Escavações iniciam-se para trazer à luz a trágica história de 796 crianças em Tuam

O processo de escavação para exumar os corpos de cerca de 800 crianças na St Mary's Mother and Baby Home, localizada em Tuam, na Irlanda, deu início esta segunda-feira.

Entre os anos de 1925 e 1961, a St Mary’s foi um lar para mulheres grávidas, não casadas, que eram enviadas para ali dar à luz. Estes bebés, rotulados como “filhos do pecado”, enfrentaram discriminações mesmo entre eles; os mais saudáveis e atraentes eram geralmente direcionados para adoção, enquanto os restantes eram sujeitos a condições deploráveis, como má nutrição e abuso.

Nas escolas da aldeia, a presença destes meninos e meninas era muitas vezes uma ameaça utilizada para disciplinar outros alunos, que tinham medo de serem colocados ao lado deles.

A vida de muitos “filhos do pecado” foi curta, com numerosos casos de morte devido à subnutrição e tuberculose, levando à sua inumação numa vala comum, a qual só agora, um século depois, está a ser escavada.

Além das crianças, as mães também suportaram um sofrimento significativo, frequentemente sendo mantidas na instituição sob uma ordem governamental por um ano. Após esse período, muitas eram enviadas a outras instituições, perpetuando o ciclo de dor e estigmatização por parte do Estado e da Igreja Católica, que então tinham uma influência preponderante na sociedade.

Dentre as 796 crianças falecidas, acredita-se que apenas duas tenham recebido um funeral digno.

O caso das crianças foi ignorado por muitos anos até que a historiadora Catherine Corless descobriu os certificados de óbito em arquivo, o que resultou numa comissão de inquérito e num pedido formal de desculpas do governo, culminando na promessa de realizar escavações no local.

Catherine Corless expressou o seu “alívio” pelo início das escavações, descrevendo a situação como “uma enorme alegria para ela e para as famílias que têm aguardado com a esperança de encontrar os seus entes queridos.”

Inúmeros indícios sobre a situação na instituição foram reportados já em 1975, quando partes de corpos foram vistas, mas as autoridades, na época, descartaram-nas como remanescentes da Grande Fome que assolou a Irlanda entre 1845 e 1852.

Embora a escavação estivesse planeada para começar em 2019, só em 2022 foi aprovada a legislação necessária para avançar com o projeto.

A operação conta com uma equipa de 18 profissionais, incluindo arqueólogos, antropólogos e especialistas forenses de várias nacionalidades, estando estimado que o trabalho dure cerca de dois anos. O seu objetivo é recuperar, identificar e devolver dignidade aos corpos das crianças, permitindo assim que sejam entregues às respetivas famílias para um funeral adequado.

A St Mary’s foi apenas uma das muitas instituições na Irlanda que seguiram diretrizes semelhantes. Em um relatório de 2021, uma comissão de inquérito confirmou que entre 1922 e 1998, 56 mil mulheres solteiras e 57 mil crianças foram acolhidas em 18 lares desse tipo, com um número chocante de 9 mil crianças a perderem a vida nessas instituições.

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