Rússia descarta "avanços súbitos" nas conversações com a Ucrânia
O Kremlin desvalorizou a possibilidade de progressos significativos nas futuras conversas com a Ucrânia, à medida que a terceira ronda de negociações se aproxima em Istambul.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou hoje que não existem expectativas de “avanços súbitos” nas conversações entre a Rússia e a Ucrânia, que se prevê que ocorram na quarta-feira em Istambul. “Dadas as circunstâncias atuais, isso seria muito difícil de atingir”, afirmou durante a sua conferência de imprensa diária.
Embora a Rússia não tenha confirmado oficialmente a sua presença, Peskov expressou otimismo quanto à realização da terceira ronda “esta semana”, especialmente após o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter avisado Moscovo sobre a possibilidade de sanções severas caso um acordo com Kiev não seja alcançado num prazo de 50 dias, ou antes de setembro.
Peskov reiterou que os representantes russos estão determinados a proteger os interesses da Rússia e a atingir os objetivos inicialmente estabelecidos. Ele ainda destacou que as partes trocavam memorandos que refletem visões “diametralmente opostas” sobre a resolução do conflito. Nesse sentido, as recentes trocas de prisioneiros de guerra e corpos, realizadas após as primeiras rondas de negociação, foram consideradas um “resultado positivo”.
O porta-voz do Kremlin não descartou a possibilidade de uma cimeira futura entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas sublinhou que “muito trabalho ainda está por fazer”. Ele evitou afirmar se um acordo definitivo poderia ser alcançado ainda este ano, mencionando que existem “muitos fatores” em jogo e que “todas as previsões seriam prematuras”.
A reunião em Istambul terá lugar no Palácio Otomano Çiragan, o mesmo local onde se desenrolou a última ronda de negociações, a 2 de junho. A primeira ronda ocorreu a 16 de maio.
Zelensky confirmou que a delegação ucraniana será liderada por Rustem Umerov, antigo ministro da Defesa e atual secretário do Conselho de Segurança Nacional. O principal objetivo de Kiev é assegurar a liberação de todos os prisioneiros e o regresso das crianças ucranianas detidas pela Rússia.
Contudo, o maior entrave nas negociações é a exigência ucraniana de um cessar-fogo incondicional de pelo menos 30 dias antes de se discutir um acordo político, algo que a Rússia recusa aceitar. “Precisamos intensificar a dinâmica das negociações. Devemos fazer tudo o que for possível para alcançar um cessar-fogo. O lado russo deve parar de evitar decisões”, disse Zelensky no sábado.
A delegação russa deverá novamente ser liderada pelo conselheiro presidencial, Vladimir Medinsky. O Kremlin insistiu que qualquer acordo de paz deve incluir a retirada da Ucrânia das quatro regiões anexadas ilegalmente em setembro de 2022 (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia), embora nunca tenham estado sob controlo total. A Rússia também exige que a Ucrânia renuncie à sua adesão à NATO e aceite restrições severas às suas forças armadas, condições rejeitadas tanto por Kiev como pelos seus aliados ocidentais.
Desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia tem recebido apoio financeiro e militar dos seus aliados ocidentais. Além disso, esses aliados têm imposto sanções a sectores-chave da economia russa com o intuito de limitar a capacidade de Moscovo para financiar o seu esforço bélico.